terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SITUAÇÃO DE QUEIMADAS DURANTE A ÚLTIMA FASE DA GUERRA DE CANUDOS (1897).



SITUAÇÃO DE QUEIMADAS DURANTE A ÚLTIMA FASE DA GUERRA DE CANUDOS (1897).

"O Jornal do Commercio" do Rio de janeiro, de 8 de setembro de 1897, publica a reportagem que a seguir reproduziremos por nos parecer a que melhor nos informa sobre a situação de Queimadas, durante a última fase da Guerra de Canudos.

Queimadas é uma cidade modesta e pequena, encravada bem a meio de uma zona árida de caatinga, excessivamente seca e improdutiva.
O Itapicuru, que a corta em semicírculo, como o Vaza-Barris, em Canudos, não deixa ver em suas bordas essa verdura tão comum à margem dos nossos rios. Nesta época do ano, nada além do gado que se interna pela caatinga afora, alimentando-se de várias espécies forraginosas e, depois, de tudo o qie encontra. De um ponto alto bem se pode contemplar o horizonte intérmino, fechando num círculo a mesma aridez; as colonas se sucedem, iludindo perfeitamente a vista pela configuração de planícies e pequenas ondulações; aqui ou ali destaca um morro descabelado ou a crista de uma serra que perfila no azul; o mais é a caatinga impenetrável e o sol que tremeluz dardejando fogo. As noites são frescas e as manhãs, muitas vezes, frias. A indústria de toda esta parte do nosso sertão é a pastoril, única que aqui poderia prender o homem ao solo. À exceção de alguns lugares, que são verdadeiros oásis na vizinhaça, Queimadas recebe tudo de outros pontos e quase que só exporta peles e gado, mantendo assim o equilíbrio do seu comércio, aliás vem desenvolvido até o tempo da expedição do inditoso Coronel Moreira César.
Sente-se aqui, simultaneamente, a impressão má de uma cidade morta e a impressão desagradável de uma praça de guerra desorganizada.

QUEIMADAS ANIQUILOU-SE


A guerra tem seus inconvenientes, que são inevitáveis, mas também os seus benefícios. Não obstante tudo, era, pois, de esperar que este núcleo, já importante, de uma povoação sertaneja que floresce, compensasse, de alguma sorte, as desvantagens, que são da natureza da guerra, dando em resultado o aumento de seu comércio e da sua população. Observa-se justamente o contrário: Queimadas aniquilou-se; o comércio ficou reduzido a bibocas de rapaduras e bebidas baratas; as famílias fugiram, as autoridades civis abandonaram os seus postos; as feiras desapareceram e o tabaréu retraiu-se na caatinga, atemorizado.
Este fato deve ser ou tem a sua explicação em causas inteiramente dignas de menção pelas circunstâncias de se prenderem todas elas à marcha e situação das nossas forças.

QUEIMADAS FICOU ABANDONADA


O sertanejo entre nós, tem, em todos os tempos, uma grande desconfiança das forças de linha, e não sem razão, pelos estragos feitos, danos causados e violências cometidas em sua passagem, inspirando sempre o terror. A esta desconfiança, profundamente arraigada no seio ds família sertaneja, vieram se reunir fatos dignos de nota.
Depois da Expedição César, que aqui captou as simpatias do tabaréu, lembram-se todos os ódios que, então, se desencadearam contra a Bahia e a conduta menos correta e irregular que tiveram certos batalhões, cometendo despropósitos e desatinos, inteiramente dignos da mais veemente censura ; os baianos, sem distinção, eram tratados de jagunços e maragatos ou apontados como monarquistas e cúmplices nos reveses das expedições anteriores. Era tamanho o terror que tudo isto inspirava às populações desta zona, que quase toda ela se despovoara. Queimadas, então, ficou abandonada. Algumas famílias, que se não podiam mover facilmente, permaneceram ainda na cidade; mais tarde, porém, foram obrigadas a ceder "patrioticamente" as suas modestas habitações ou confiá-las à guarda da praça, o que sempre seria melhor que o sobressalto, embora se pudesse confiar no espírito de ordem, critério e justiça de oficiais distintos; mas é que não faltavam pessoas menos sensatas e pouco refletidas para quem o taberéu não tinha nem valimentos.

Fonte: (Nonato Marques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 119/120)

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